Possivelmente muitos de nós, Louletanos que estão fora de Loulé ( poucos terão ido em fim-de-semana antecipado), não sentiremos o que nesta manhã está a acontecer. Em resumo é isto:
1.º - Foi feito um apelo para que hoje ninguém use a Via do Infante, ao mesmo tempo que foi sugerida a concentração de veículos (de empresas e de cidadãos) ao longo de toda a Estrada 125.
2.º - Foram organizadas duas caravanas a partir das 9 horas – uma a partir de Lagos e outra a partir de Vila Real de Santo António. As duas caravanas fazem convergência no Nó da Guia – nos enfiamentos da 125 com a Via do Infante.
Portanto, imagine-se o pandemónio de protestos!
A manifestação tem o apoio expresso das principais organizações empresariais do Algarve: ACRAL (sede em Faro), AHETA (sede em Albufeira), AIHSA (sede em Faro), CEAL e NERA (sede em Loulé).
Macário Correia, presidente da Junta Metropolitana do Algarve e máximo representante da região, deu firme apoio à iniciativa.
Na verdade, começa já a não estar em causa apenas a introdução das portagens na Via do Infante, mas sobretudo o perfil, as características e a «vocação» da Estrada 125 como alternativa à única auto-estrada transversal do Algarve. A Via do Infante, sabemos, não passa de uma via rápida alargada com separador central e a Estrada 125 mais não é do que o velho caminho medieval decorado com duas faixas, por vezes três em alguns sítios conforme o número de mortes dita o escândalo do atraso. A introdução de portagens na Via do Infante irá provocar, sem dúvida, o aumento do caudal de trânsito na 125 cujas condições de segurança ultrapassam há muito os limites – é um verdadeiro cemitério.
Acresce que os sucessivos governos pouco ou nada têm feito para ampliar, melhorar e inovar em matéria de ligações secundárias rápidas. Basta citar o caso de Loulé-Quarteira: apenas agora se dão os primeiros passos para uma ligação directa que não excede os escassos 8 a 10 quilómetros entre os dois pólos citadinos, cada um com características diferentes mas complementares e de dimensão apreciável. A malha urbana de Loulé e a malha urbana de Quarteira estão ligadas praticamente como quando Loulé era uma praça de armas e centro de comércio e Quarteira uma aldeia de pescadores… Foi preciso as Quatro Estradas terem feito quase os mortos do Iraque para, enfim, se pensar (apenas pensar) numa passagem desnivelada e foi necessário que os senhores comboios fossem electrificados e pendulares para se fazer, como está feita mas mal, uma passagem superior sobre a via férrea que é apenas um terço do carrossel oito, ficando os restantes dois terços na gaveta. Sem dúvida que Loulé-Quarteira estão no centro da questão.
Julgamos que seria útil tomar uma iniciativa – macabra, por certo, mas imperiosa para fazer descer o poder central do céu napoleónico onde tem determinado o destino das almas algarvias, porque de almas se trata. E em que consistiria essa iniciativa? Simplesmente em colocar uma cruz em cada local onde tenha morrido gente por acidente por causas imputáveis às estradas e só às estradas. Cruzes em todos os locais de morte, na 125, na 126, na 127, na 128, por aí fora, incluindo as 125-A. 125-B e por aí fora também. Cruzes para que se saiba como a morte não se vê. Incómodo, sem dúvida. Mas incomoda mais que não haja família no Algarve que não tenha o «seu morto da 125». Não há mesmo. O ministro António Mexia deve pensar nisto. E muito a sério.
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