15 de novembro de 2004

Loulé. Num poema de Nuno Júdice... Leiam

Sim. Está no fim. Leiam por isso até ao fim. Leiam devagar, palavra a palavra, até que a palavra Loulé surja ligada a este azul. Para quem, como nós Louletanos, conhece a cor do céu de Loulé, um céu enorme, abrangente, redondo e até onde o dedo de apontar chega, este poema de Nuno Júdice reconforta.
RECEITA PARA FAZER O AZUL
Nuno Júdice

Se quiseres fazer azul,
pega num pedaço de céu e mete-o numa panela grande,
que possas levar ao lume do horizonte;
depois mexe o azul com um resto de vermelho
da madrugada, até que ele se desfaça;
despeja tudo num bacio bem limpo,
para que nada reste das impurezas da tarde.
Por fim, peneira um resto de ouro da areia
do meio-dia, até que a cor pegue ao fundo de metal.
Se quiseres, para que as cores se não desprendam
com o tempo, deita no líquido um caroço de pêssego queimado.
Vê-lo-ás desfazer-se, sem deixar sinais de que alguma vez
ali o puseste; e nem o negro da cinza deixará um resto de ocre
na superfície dourada. Podes, então, levantar a cor
até à altura dos olhos, e compará-la com o azul autêntico.
Ambas a s cores te parecerão semelhantes, sem que
possas distinguir entre uma e outra.
Assim o fiz – eu, Abraão ben Judá Ibn Haim,
iluminador de Loulé – e deixei a receita a quem quiser,
algum dia, imitar o céu.

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